Cozinha da Matilde

Yes, nós temos pimentas!

Parafraseando Shakespeare, há mais coisas entre o corpo humano e um prato de comida do que supõe a nossa vã filosofia!

E você, que sempre acreditou que escolhia o que ia comer por puro prazer gustativo, ou seja, para atender ao seu apetite, pode acreditar, a coisa vai muito alem da vontade de comer. E mais, não há nada de racional nisso, suas escolhas alimentares são feitas por puro instinto de sobrevivência!

Embora eu tivesse lá no fundo uma intuição de que a coisa ia mesmo por aí, foi assistindo a um programa da Discovery sobre o cérebro humano que pude compreender um pouco mais este processo.

Segundo o programa, nossas escolhas alimentares são todas feitas com base em nossas necessidades físicas, e quem indica para o estomago o que devemos comer é o danado do cérebro, que por meio de uma série de mecanismos (muitos deles verdadeiras artimanhas), faz com que a gente tenha vontade de comer determinado alimento que o nosso corpo precisa. Trocando em miúdos, ele literalmente junta a fome com a vontade de comer!

Para ilustrar, o programa contou a história real de um cara que ficou a deriva no mar por cerca de 50 dias. Logo ele aprendeu a pescar para poder se alimentar, e seguindo seu paladar ele comia apenas a carne do peixe e descartava olhos, pele, vísceras… acontece que, para sobreviver, essa dieta baseada exclusivamente em proteína e gordura não é suficiente. Uma série de nutrientes e vitaminas também são necessárias para que o corpo não entre em um processo irreversível de desnutrição.

O que o cara não sabia (e não tinha ninguém ali para contar), é que todas esses nutrientes, fundamentais para sua sobrevivência, estavam presentes no peixe que ele estava comendo, mas justamente no que ele descartava por não ter a menor vontade de comer.
Pois bem, depois de alguns dias comendo sashimi, o cara percebeu uma estranha alteração em seu paladar: de um momento pro outro passou a ter um desejo incontrolável de comer olhos, vísceras e tudo o que antes descartava do peixe. E graças a este estranho desejo ele conseguiu sobreviver!

O que aconteceu foi que o cérebro dele mandou ao corpo uma mensagem sobre o que ele devia comer e o corpo traduziu esta mensagem como vontade de comer as partes do peixe onde estava o que ele precisava para sobreviver. Ou seja, o que em um primeiro momento pareceu uma alteração alimentar sui generis, na verdade era uma ordem do cérebro para garantir que o corpo não perecesse.

O programa prosseguia falando das escolhas alimentares da humanidade, sobre o processo de definir o que era e o que não era comestível e importante para o corpo, e que todas estas escolhas partiam justamente do cérebro!

E lá pelas tantas, pra explicar como funcionam estas ordens do cérebro para o corpo, começaram a falar sobre pimentas! E eu, que já estava super interessada, vibrei!

Pois bem, que pimenta é uma delícia, eu já sei de longa data, mas ao contrario do senso comum que acredita que pimenta faz mal à saúde (o excesso faz mal mesmo, como aliás a maioria dos excessos), sempre acreditei que uma coisa tão gostosa só poderia ser um bom alimento (era o meu cérebro falando…). Bingo! E não é que ela é boa mesmo prá saúde?

Entre seus muitos benefícios, a pimenta tem três importantes efeitos farmacológicos: antiinflamatório, antioxidante e capacidade de liberar endorfina. É remédio para enxaqueca, dores de cabeça crônicas e até depressão!

Tudo por conta de sua substância ativa, a capsaicina (na pimenta do reino é a piperina), responsável pela sensação de ardor. E é justamente aí que entra o danadinho do cérebro outra vez: ao ingerir alimentos apimentados, a capsaicina ativa receptores sensíveis na língua. Diante da sensação de que a boca está “pegando fogo”, o cérebro recebe o estímulo de apagá-lo e libera a endorfina, que causa uma sensação de bem-estar e faz da pimenta um alimento aconselhável para quem tem depressão, enxaqueca ou dores de cabeça crônicas.

A pimenta engana o cérebro simulando um fogo que não existe. Com isso, o organismo produz uma substância benéfica à saúde. Assim, a salivação, transpiração e o rosto vermelho, provocados pela pimenta, são, na verdade, uma defesa do organismo e não causam nenhum dano físico, ao contrario do que se pensa por aí.

E mais, por ser antioxidante, rica em flavonóides e vitamina C, a pimenta pode ainda reduzir o risco de doenças crônicas como câncer de próstata, catarata, diabetes e mal de Alzheimer. Segundo especialistas, como a nutricionista Daniella Fialho, “Ela limpa o sangue e remove substâncias tóxicas que vêm da alimentação e poluição.”

E a coisa não para por aí. Pasme: a pimenta tem seis vezes mais vitamina C do que a laranja, um dos principais representantes desse grupo de alimentos. Para se ter uma idéia, 28 gramas do alimento é a quantidade diária para suprir o que precisamos.

Moral da história: ouça seu corpo e coma mais pimentas, porque pimenta menina, tem vitamina, não engorda e faz crescer!!!