Vitrolinha – The Commitments (ou eu quero ser da banda)
O ano era 1991 quando o filme The Commitments foi lançado. Eu era bem novinha e achei o máximo aquela história de irlandeses que se reúnem para formar uma banda de soul music.
Não acreditava que aquele mundaréu de artistas talentosos tinham se reunido só para gravar um filme. E por muito tempo aquela foi uma das minhas bandas preferidas. Na verdade depois que vi o filme eu ficava sonhando em ser backing vocal daquela banda. Juntei a minha mesada e comprei os dois CDs, o The Commitments, que é a trilha, e o The Commitments, Vol. 2, que incluiu sete faixas que não estavam no filme. Ah, e claro, ficava ouvindo no repeat.
O filme conta a história de um cara apaixonado por soul e queria formar uma banda. E começou a fazer audições na casa do seus pais até formar o grupo que tocava em pubs na Irlanda, e tinha tanta gente talentosa que o sucesso subiu a cabeça e eles desmancharam por pura falta de manejo de controle de ego. Como pano de fundo, estava todos os problemas da classe trabalhadora de Dublin.
Estes dias eu fui a trabalho ao Rio de Janeiro e coloquei o Ipod no aleatório. Em um certo momento tocou Try a Little Tenderness, a minha preferida do repertório deles. Eu ouvia tanto, que o meu irmão praguejou que eu ia acabar enjoando dela. Errou. Até hoje eu sou muito fã desta música que ficou famosa com Otis Redding (1941-1967), com arranjos do Isaac Hayes. O sopro dos acordes iniciais é apaixonante, e muita gente legal regravou, como Tina Turner, Frank Sinatra, Etta James, Al Jarreau, Nina Simone e mais um tanto de gente, incluindo até a Cássia Eller. Ela vai devagarinho, contando a história de uma moça insegura que precisa ser tratada com um pouco de carinho, até começar o coro, e Squeeze her Don’t tease her Make love [Get to her] Hold her tigh:
O Wilson Pickett (1941-2006) foi peça fundamental no filme, não só porque ele foi o responsável pela música original (ou Original Soundtrack), ou porque no finalzinho do filme ele teoricamente aparece (mas aí já é tarde demais..). E várias músicas de autoria dele e que fizeram sucesso com ele, estão lá, como Mustang Sally (repare na coreografia, se não da vontade mesmo de ser da banda) e In The Midnight Hour:
As backings também assumem a voz principal em algumas canções e fazem interpretações incríveis de clássicos da Aretha Franklin, como Chain of Fools, em que a palavra Chain repetidamente vira praticamente um instrumento musical.
Tem a versão de I Never Loved a Man the Way I Love You, que também deu o nome ao álbum de 1967 da Aretha que a fez entrar para a história (e que tem a clássica Respect, do Otis Redding, olha só!). E a música fala de uma mulher apaixonada por um bom malandro. (uh I’d leave you if I could)
Outra que eu treinava no espelho segurando a escova de cabelos é Hard to Handle, também do Otis Redding. É mais uma canção com várias covers pelo mundo, e foi lançada em 1968 depois da sua morte precoce em um acidente de avião.
Em 2011, ao fazer 20 anos do filme, eles ineditamente se reuniram para alguns shows e programas de TV. E ó, estão totalmente em forma. Como os nossos sonhos.