Cozinha da Matilde

Vitrolinha – Pequeno Cidadão

No natal em que fiz 6 anos ganhei uma Sonatinha Amarela, e eu vivia para cima e para baixo com a vitrolinha, ouvindo música.

Mas de música infantil mesmo, eu só gostava do Balão Mágico, por conta da moda, e da Turma da Mônica, porque eram velhos conhecidos. O que eu gostava de ouvir mesmo era Rita Lee. Minha brincadeira favorita era ser a Rita Lee, e todas as outras pessoas envolvidas eram o Roberto de Carvalho. Eu tinha até coreografias para as músicas, que minha mãe lembra até hoje eu indo tomar “banho de sol” , ao cantar Baila Comigo e Banho de Espuma para mim era musica de criança, e o apetite do reino de Afrodite era de comida.

Quando a tia Mônica foi morar em Londres os discos dela ficaram em casa, para minha alegria. Tinha Saltimbancos, Chico Buarque (1977), Cazuza (Ideologia), Milton Nascimento (Minas e Caçador de Mim), Guilherme Arantes (A Cara e a Coragem). Eu e meu irmão ficávamos um tempão vendo aquelas capas de disco e intercalando com o True Blue, da Madonna e o Bad, do Michael Jackson.

No fundo eu sempre tive preguiça de música para criança. E não ia ser mais velha e mãe que isso ia mudar. Mas a gente tenta.

A primeira vez que ouvi falar do Pequeno Cidadão, foi na Folha e eu achei uma boa sacada, a história de juntar um time legal como Arnaldo Antunes (sem comentários!), Edgar Scandurra (uma das caras do rock nacional), Antonio Pinto (que na boa, vai ter talento assim na China!!) e Taciana Barros (meu, ela era do Gang 90!!) com seus filhos. Lembro deles se descreverem como música psicodélica para crianças. Mas deste dia até o Tom nascer, nunca tinha ouvido nada deles.

Mentira. Uma vez o Tião, filho da Vana e do Julinho estava em casa e começou a cantar “não foi nada demaaaaais, foi um carrinho por trás”. Tiãozinho mal falava, mas já cantava. “É uma música do Pequeno Cidadão”, disse o Julinho. Eu desconfiada, perguntei se era realmente legal e ele falou todo empolgado que sim, mas eu pensei “ahan, até parece”.

Depois foi aquela história, fiquei grávida, e nasceu o Tom. Naturalmente durante a gravidez eu não só ouvi muita música, como discotequei em muitas festas. E com o agravante que ele tem o melhor DJ do mundo como pai, já sabíamos que ele ia ser musical, tanto é que seu nome tem um pouco a ver com este fato.

Fato comprovado na escolinha, em que ele foi apelidado como pé de valsa. Um dia no seu caderninho de recado, estava escrito que ele dançou muito ao som de “pula pipoquinha”. Nem eu nem o Will tínhamos ouvido falar desta música. Perguntei para o Clayton, professor do Tom, e ele: “O queeee? Mãe e pai DJs e vocês não conhecem ´pula pipoquinha´?” No final do dia veio o CD pra gente gravar. E só confirmou como músicas infantis são, vamos dizer, difíceis.

De uns tempos para cá, comecei a encontrar bastante a Taciana nas festas d@s amig@s, e da casadalapa. O Sato é bem próximo do pessoal do Pequeno Cidadão. A Valentina, filha do Pedro e da Mari fez, uma participação especial em um show deles. As proximidades e as afinidades foram se afunilando, até que decidir levar a família num show, dia 01 de maio no SESC Santana.

Nosso lugar era bem longe, o que achei bom, já que me sentia um peixe fora d’agua. Mas o show começou e ficamos vidrados! O Tom, na época com 1 ano e dois meses ficou atento ao show inteiro, dançando do seu jeitinho, levantando as mãos pra cima e dizendo ôôôô. Eu, olha, fiquei enlouquecida. Achei incrível tudo! Fez todo o sentido a história da psicodelia, o bis foi Bonequinha do Papai, uma música eletrônica com rap e rabeca, (que já foi harmonizado por aqui) que me deixou em transe, quase subi no palco com todas as crianças.

Fiquei uns cinco dias só pensando no show. Encontramos “Ficar Estranho” no Youtube e assistíamos diariamente, intercalando com Bonequinha do Papai que tem um vídeo clipe incrível.

Aliás, fiquei sabendo que o DVD tinha um vídeo mais legal do que o outro, resultado de um projeto muito legal, com vários artistas, inclusive com a casadalapa.

Um dia na casa da Let, contando como era fundamental este rock and roll para crianças, ela disse que tinha um DVD sobrando, se a gente sabia quem poderia querer. “Poxa, a gente pode ficar?”, eu perguntei. E ela: “uai, achei que vocês já tinham”.

Resultado: o Tom não desgrudou mais do DVD. Chegava em casa e segurava a caixinha, nem fazia questão de assistir, mas reconhecer o cachorrinho na capa era o suficiente para ele.

A primeira faixa, Pequeno Cidadão, que dá nome ao disco e a Banda, e que abriu ao show, é tão gostosa, falando dos direitos e deveres da criança, que inclui bagunçar, sujar de lama, pular no sofá, e também tomar banho escovar os dentes e fazer a lição. Tudo ligado por riffs de guitarra, voz de adultos e de crianças.

A segunda é o Sol e a Lua. O clipe é um pouco adolescente, mas não importa. Historicamente ela é muito importante aqui em casa. Foi a primeira musica que o Tom cantou. Foi com ela que o Tom aprendeu a dizer não. Inclusive depois de aprender a falar não, para ele todas as respostas eram ‘não’. O Tom almoçou hoje? ‘não’. O Tom foi na escolinha de manhã? ‘não’… Tudo por conta do refrão: “o Sol, pediu a Lua em casamento/ E a Lua disse não sei, não sei/ vê se me da um tempo”. Hoje ele repete ‘sol’, ‘lua’ e faz não com a mão e depois põe a mão no coração imitando o coração congelado do Sol, depois de ser desprezado pela Lua.

A próxima é Meu Anjinho, que é uma canção de ninar. Linda linda, cantanda pela Luzia, filha da Taciana, que parece uma anjinha mesmo.

A próxima é Futezinho na escola, e o clipe desta canção é um primor! Uma bola percorrendo a casa de diversas maneiras, enquanto é narrada uma partida de futebol na escola antes da aula de português.

A quinta é O “X”, que é uma das minhas preferidas. Quão incrível é a frase “bote no meio do X só para ficar mais feliz?/Pelo seu barato de cabelo arrepiado”. Pô, quando o Luis Alexandre disse que a Manuela, sobrinha dele que compôs, eu fiquei de cara! Porque reproduz uma brincadeira que a gente tem aqui em casa de criar letras loucas e divertidas.

Depois vem Tchau Chupeta. Se eu, ou o Tom, tivesse chupado chupeta eu ia fazer o que diz a letra. Primeiro cria situações de se imaginar a mãe, o pai, a avó ou o avô de chupeta. Aí diz que “todo mundo uma hora tem que se libertar/ quando eu era pequena eu joguei a minha no mar”. E por fim: “vai vai vai navegar, valeu obrigada/ mas eu prefiro respirar/ agora eu quero cantar/ sem uma tampa de borracha pra me atrapalhar”.

Sapo – Boi é um rock and roll que diz que a solução para a dengue e os mosquitos é o sapo boi. E o prefeito da capital devia chamar a sapa vaca e deixar os dois pastando de Santana até o Jabaquara! Muito bom! “o mosquito como o prato da vez”!

O Leitinho é uma música total de carinho. Aqui a gente canta para ninar, ou mesmo quando vai fazer um cafuné. A voz grave do Arnaldo Antunes ajuda bastante dar um clima confortável, porque leitinho, soninho e carinho, só podem ser sinônimo de acolhida e conforto. “Tira o leiiiiite!”

A nona faixa Larga a Lagartixa, é um punk rock, que no clipe começa com um grafite da Magrela e da Sinhá que tinha perto do nosso ex-ape. E se esta música tivesse sido composta na minha época, quem sabe eu teria menos medo de lagartixa, já que: “Ela chupa o pernilongo/Que chupa o sangue da gente / Ela chupa o pernilongo/ Que chupa a gente também”.

A próxima, Uirapuru, foi um dos primeiros clipes que eu vi do DVD, porque ele tem o dedo da Vana e do Sato, e eu fico toda orgulhosa. E a letra brinca com este pássaro que já preencheu minha imaginação com a sua lenda.

Sobe Desce é a atual preferida aqui em casa. Com uma letra curtinha, é um rock and roll enérgico. É a parte do show em que se fica muito suada!  E agora o Tom, além de levantar as mãos quando diz “SOBE!”, ele fala “DESCE”, mas na língua dele, com uma lingüinha pra fora que grrrrr, é DELICIOSO!

A décima segunda é Bonequinha do Papai, que é o autentico Disco Baby. Eu não me canso de ver o clipe, que tem referencias à nossa infância, e a música como eu já falei, é a tradução da psicodelia.  (“Do Papai, não, da Mamãe! Do Papai e da Mamãe!”)

A última do CD é o sambinha Carrinho por Trás, que é uma delicia, e também instrutiva para quem não sabe nada de futebol. O clipe é imperdível também.

A última do DVD foi uma surpresa. Confesso que eu desligava no Carrinho por Trás. Mas um dia deixei até o final e vi o sacrilégio que eu estava fazendo em pular a música do Ziraldo! ZIRALDO! É o Ziraldo, Menino Maluquinho, não tem o que falar! Uau.

Está saindo do forno o segundo disco deles, e o clipe de uma das músicas foi feito pela casadalapa. E nós participamos. Fico pensando quando o Tom for grande, que legal ele se ver lá dançando “Oi! Hello!” (ops, ainda é segredo!)

E para fazer o pré lançamento deste disco novo, teve show dia 12 de outubro no Sesc Pompéia. Compramos o ingresso duas semanas antes, e eu estava tão ansiosa, mais do que no show do Radiohead, acho.

E foi incrível, sentamos bem na frente, para o Tom parecia que estávamos na sala de casa, ele dançou, cantou, bateu palmas, gritou eeeeeeee! (e eu e o Will também!!)

Terça feira, dia 16 de outubro, chega um mensagem no celular da minha mãe às 7h45: “Leia a Ilustrada”. Estava conversando com a Nilza sobre a novela ´Av. Brasil´, e eis que abro e dou de cara com uma foto minha e do Tom, na Monica Bergamo. Dei um grito: “Olha a gente com os nossos ídolos, Tom!”. Começou a apontar o jornal. Que emoção! (mesmo com o meu nome errado!).

Para a nossa surpresa, o Will mandou enquadrar. Pronto, Pequeno Cidadão é parte da nossa história.