Vitrolinha – K7 é um tesouro!
Eu sou daquelas que junta tralha pra caramba. Claro que tem um quê de apego, mas cada vez acho que a razão é porque eu tenho um prazer danado em achar um destes tesouros e ter uma onda de lembranças e sentimentos.
Faço isso na bolsa, deixando papeizinhos que me façam lembrar o dia, em livros deixo o marca texto dentro para lembrar da época em que eu o li, e nas gavetas do criado mudo, vixe tenho até que tomar cuidado quando vou abri-la, porque é muita referência juntas.
E numa destas, achei uma caixinha de fitas K7! Já escrevi sobre a emoção de ter e fazer uma mixtape, e poxa, são mini tesouros mesmo! Sou nostálgica, e uma das minhas memórias afetivas preferidas é a musical.
A caixinha que eu encontrei era a das fitinhas dos namorados. Tinham umas 4 do João Paulo, com muito Steve Vai, Dr. Sin, White Snake, Gary More… uma era muito especial, com músicas próprias, ele nem deve lembrar disso, porque sempre foi esquecido e porque estamos falando de 1995.
Tinha uma do Radiohead que o Henry, um namoradico músico-que-trabalhava-num-café, na época que morei nos EUA (e que terminou comigo porque “músicos casam aos 20 e advogados casam depois dos 30”), me deu, em 1999, e me fez gostar muito desta banda.
Aí tinha uma também do Manu (corações corações corações), que vale um post, a fitinha veio da capital federal, com desenhos e músicas cheias de significados, que quase me fizeram querer mudar para Brasília. Agora ouvindo, consigo lembrar daquele carpete cinza horrível da Cardoso de Almeida, onde eu deitava do lado do som, e ficava olhando a janela do 11o andar e ouvindo o Counting Crows dizer que “Maybe things are different” .
E neste meio, tinha uma do Dionísio, um namorado que trabalhava na Livraria Cultura, que eu nem gostava muito, mas me deixei influenciar pelo delírio dos presentes, pois estava começando esta história de site de compras (2001), e como ele trabalhava lá, tinha uns descontos, e ele vivia me mandando CDs e livros em casa (“em vez de te dar flores, mando Rosa do Drummond”)
E a única música que eu lembrava da fitinha que tinha era uma da Marianne Faithfull, mas eu não lembrava qual era. E a fitinha não estava com as músicas, na verdade estava numa caixa transparente, com a minha letra na fita escrita com o nome dele.
Dei uma olhada no YouTube mas nenhuma era familiar. Fiquei muito intrigada e curiosa, me auto amaldiçoando por não ter um toca fitas em casa, até que o Will lembrou, “aquele rádio da cozinha que quebrou o CD e não toca mais estações de rádio, vai que toca o K7”? Limpei o pó um pouquinho coloquei a fitinha e começo a rodar! Mas sem som… dei um soquinho em cima… nada, dei outro, e a Aretha Franklin começou a dizer “You better think about what you’re trying to do to me”
“Uau”, pensei, “este lado A começou muito bem”! ouvi mais um pouquinho e apertei o FF. Esperei, esperei apertei o Play e veio um Soul bem bom, parecia Wilson Pickett, e peguei o Ipad para conferir pelo SoundHound o nome da música, e era Nine and a Half
Começou Baby I Need Your Loving, com o The Four Tops que eu achei um bem bonitinho, porque é música de apaixonados, né?
Seguiu o James Brown com It’s a man’s man’s man’s world, dizendo que o “mundo é dos homens, mas eles não seriam nada sem uma mulher ou garota”. (zzzzzzzzzzz, pra esta homenagem, mas James Brown é foda!)
Depois veio Secos e Molhados, que é sempre bom, mas eu gostei mais porque Não: não digas nada, é uma música que eu não lembrava de ter escutado
A próxima era a Maria Bethania cantando a linda Espere por mim Morena do Gonzaguinha. A frase “E nas noites de frio/Serei o teu cobertor” é muito romântica!! E como o autor da fita gostava de mim, acho que ficou bem óbvio porque ele gravou esta música ;)
A próxima quase morri do coração, Ketty Lester com Love Letters! Que clássico e que delícia! Poxa, o cara gostava do Olavo de Carvalho, mas tinha um putz bom gosto!
Veio em seguida a etérea da Julee Cruise com Mysteries of Love. Ele devia ser bem fã do Veludo Azul do David Lynch. Mas não ficou boa na mixtape, e nem consegui ouvir inteira…
Depois desta, foi difícil identificar. Peguei o SoundHound e nada. Tentei umas 3 vezes. Comecei a digitar no Google a letra da musica e apareceu Almost Blue, com o Elvis Costello. Na fita, era cantada por uma mulher, e a é linda demais. Não achei a mesma versão, mas esta do Elvis Costelo da pro gasto:
a última do lado B é a Juliette Lewis com Hardly Wait, do filme Strange Days. Bem média, mas o moço devia ter uma quedinha pela atriz/cantora, já que em 2001 ela estava no auge do ranking the cool!
A fita repentinamente parou, faltava um pouquinho para acabar. Virei para o lado B e já estava na segunda música. Apertei o REW e a fita não rodava. Instintivamente peguei uma caneta e fui enrolando até o comecinho, no maior estilo daquela foto do facebook com uma K7 e uma Bic dizendo “se vc já fez isso, curta a foto”.
E a primeira do lado B foi uma surpresa. Uma versão de Dance to the end Love, do Leonard Cohen, muito mais legal que a da Madeleine Peyroux, com a australiana Kate Gibson.
A outra era uma loucura que precisei do SoundHound de novo, era Deade Can Dance com Fortune Presents Gifts not According to the Book. Tive que dar um FF, sorry..
Depois desta animou! Tom Zé com uma das minhas preferidas dele O Amor é Velho. (Aliás, um parêntese aqui: tem um link do YouTube que o Tom Zé aparece fazendo propaganda da Coca-Cola… Pode isso, arnaldo?)
Ele arrasou com a próxima, uma versão de Autumn Leaves de Jo Stafford, com a Paula Cole. Ele devia gostar muito de trilha sonora, porque esta música é a terceira música de trilha sonora (do Meia Noite no Jardim do Bem e do Mal).
Fiquei surpresa com a seguinte que era U2, com Sweetest Thing. Eu ignorantona achei que era uma canção super anos 2000 da banda irlandesa, mas na verdade ela é de 1987… Acho que é porque tem aquele clipe super legal com o Bono fazendo um city tour com declarações de amor e pedidos de desculpas e vários coadjuvantes, e inspirou um monte de pedidos de casamento por aí. Até ouvi com atenção, porque eu tinha dado uma cansada de U2, mas eles já fizeram muita coisa boa.
Depois ele mandou muito bem com Chet Baker com That Old Feeling
E terminou com o Paulo Autran recitando um poema do Carlos Drummond de Andrade.
Poxa, e a Marianne Faithfull? Passei anos pensando que o melhor daquela fita era a música dela, mas não tinha nenhuma! Que louca eu sou, pensei… E quando olho do lado, está o Tom com sua guitarrinha de brinquedo na frente do rádio tentando uma interação! É tesouro que vem com mais tesouros!