Vitrolinha – Georgia Reginato on my mind
Aniversário nunca foi uma grande coisa para mim. Não tenho nenhum problema em ficar mais velha, mas a obrigação de ter que fazer alguma coisa, como qualquer obrigação, é muito chato.
Acho nada a ver ficar tensa, na expectativa de ser um dia especial, que todos vão comparecer a festa, se vou receber mil telefonemas… Enfim, insegurança e falta de terapia à parte, Freud deve explicar, porque eu sou super efusiva quando é aniversário de uma pessoa querida.
Demorei para entrar no Facebook e não tive Orkut, então levou mais tempo para eu sacar a dimensão de se fazer aniversário na rede social. Hoje em dia, se conhece tanta gente, mas eu por exemplo, não tenho mais o hábito de marcar todos os aniversários na agenda, ou não se conversa mais sobre isso. E na era virtual eu abusei. No meu primeiro ano do FB eu dei parabéns para todas as pessoas que apareciam no canto esquerdo da tela. E no meu eu recebi tantas felicitações, que fiquei mais confiante! E tão feliz, que eu respondi a cada uma.
Mas tem amig@s que são especiais e a gente nunca esquece, independente de estar escrito na agenda. Por exemplo, a Thais Razel, minha primeira amiga da vida, faz aniversário dia 18/10. A Tatiana Barreto e a Cristina Abud, amigas importantes do primário, eu sempre lembro, as duas sao de abril, 12 e 15. A Domênica e o Gustavo Nogueira, duas pessoas que me marcaram no ginásio, são de setembro, ela do dia 16 e ele do dia 07. O Giu, meu companheirão do colegial, fica mais velho dia 13 de janeiro, a Keila era dia 22 de julho e a Geórgia, minha melhor amiga dos três anos do colégio, é do dia 19 de junho.
E este ano eu esqueci o aniversário dela. O ano passado também. Poxa, se ela tivesse no facebook ia ser mais fácil. Se a gente morasse na mesma cidade, eu provavelmente ia passar na casa dela. Mas todo ano é assim, começa junho, eu falo, não posso esquecer que o aniversário da Gi, que é dia 19, mas chega dia 23 e eu lembro que esqueci.
Não sei se ela fica chateada, deve ficar. No começo eu também eu ficava chateada com a cozinheira deste blog, Chefe Letícia Massula, porque ela não lembrava por nenhuma santa o meu aniversário. E ó que meu aniversário é fácil de lembrar, 12/12. E é depois de 3 dias do Marcelo, marido dela. E eu sempre dou um jeito de falar com ela o dia do meu aniversário. Mas ela sempre esquece! Quer dizer esquecia porque agora é um desafio para ela mesma!
Mas voltando a Geórgia, que raiva de ter esquecido do aniversário dela! Estes dias tava com a minha mãe e ao ver que era 22 de junho falei: “Putz, ao aniversário da Geórgia foi dia 19, esqueci”. Minha mãe, ao invés de me consolar, porque eu tava triste, disse: “ai, que chato”.
Não tem explicação. E mesmo tendo esquecido alguns anos, mesmo não ligando sempre, nem nos encontrando sempre, é um amor tão grande! Nos aproximamos muito naturalmente no colegial, e vivemos intensamente os três anos. O Celso a chamava de Georgets, e eu adorava, e só a chamava assim também. Na faculdade fui morar em São Paulo, ela em Viçosa, e sempre que voltava de lá, trazia um presente. Ela até teve um casinho com o Rômulo, meu primo, e eu torcia mais do que os dois para que desse certo. Quando eu fui morar fora do país, as cartas dela eram as mais legais, sempre com uma surpresinha e um carinho. Ficamos anos sem nos falar, enquanto ela estava por Minas Gerais, Dinamarca (ou será que era Noruega?), EUA, Mogi.
Quem sempre me perguntava dela, com segundas intenções era o André, um AMIGO, com letras maiúsculas, que conheci com 4 anos de idade, que faz aniversário 22 de fevereiro, nunca esqueço também. Mas a Gi sempre namorou aaaaanos com os namorados dela. Nem agitava, mas sempre o desencorajava.
Até que ele encontra com ela por acaso em Mogi, ela de volta e recém separada. E me usa como desculpa para conversar. E pede o telefone dela para avisar quando eu estivesse em Mogi, para todos sairmos. E me avisa da mentira, para qualquer coisa eu encobrir tudo. Semanas depois ele me contou que estavam saindo e depois de cinco anos, os dois moram juntos, numa casinha delícia, que eu imagino só deles falarem.
Ao saber que eu estava grávida, ela me deu de presente um dos slings mais bonitos que eu já vi. Ela fez as lembrancinhas do nascimento do Tom, antes de saber se era ele ou a Carmem, e se desdobrou não sei como, pois super desorganizada que sou, entreguei tudo para ela fazer na sexta e o bebê nasceu no sábado.
E junto com todo este amor que eu recebo, e espero que ela saiba o quanto é recíproco, ela foi a responsável por guiar o meu gosto musical, quando em 1994 me deu uma fita K7, da marca Vat, gravada em seu lado A com músicas nacionais e lado B internacionais, como ela nomeou. Eu costumava falar que eu ouvia tanto a fita, que ela ia ficar fininha de tão gasta. Mas ela garimpou os vinis da casa dela e gravou uma seleção tão significativa, que ao ouvi-la hoje, em 2013, eu sinto toda a força dos prazeres que a memória afetiva nos revela.
A fita começa com Marina Morana, interpretada pelo próprio Dorival Caymmi. Minha versão favorita e a responsável pelo meu nome.
Depois é, aff, San Vicente do Milton Nascimento. Lembro que fiquei anestesiada a primeira vez que eu ouvi. E ficava maravilhada toda a vez que eu ouvia. Me impressionava o barulhos dos sinos, e tudo o que me remetia a música, com sua percurssão, a letra e a voz do Milton dizendo que “Enquanto acontecia/ Eu estava em San Vicente/ Coração americano /Um sabor de vidro e corte”. Foi a minha primeira vontade de ser historiadora.
A próxima Expresso 2222 do Gilberto Gil! Eu gostava muito de Gilberto Gil, mas o meu repertório era limitado a Realce, Não Chores Mais, Punk da Periferia…. Depois da fitinha, vidrei no Gilberto Gil e comecei a ouvir muito, e logo no meio do ano ele gravou o CD acústico, e virou à época o meu CD de cabeceira.
Em seguida veio Oceano, do Djavan, hoje eu acho bem mais ou menos, mas foi a música tema da Duda e do Lucas, da novela Top Model, e era uma música muito romântica, que marcou bem um período.
Lua de São Jorge era a próxima, do Caetano Veloso. Outro lado B, que também me fez escutar Caetano para além de Alegria, Alegria. (E na fita, bem no comecinho tem o chiadinho da agulha na vitrola.)
Dois pra lá dois prá cá, era a quinta faixa. Elis Regina, neste bolero magistral, detalhando com várias referências a dança apaixonada, que começa com o friozinho na barriga gostoso que dá ao tomar uma iniciativa importante (Sentindo frio em minh’alma/ Te convidei pra dançar). Esta a música que a Gi gravou, além de abrir o mundo da Elis Regina, e do João Bosco para mim, virou hit com para o Lucas, meu irmão. Ele era o que mais gostava quando começa o bongô
Em seguida tinha a Rita Lee com Desculpe o Auê. Não é a melhor música dela, mas a gente não ia ser tão amiga se ela não gostasse da Rita Lee.
Rapte-me Camaleoa, era a penúltima. Eu me divertia tentando decorara a música, com todos os jogos de palavra e sua musicalidade. Ela me contou que ele fez esta música para a Regina Casé. Sortuda!
Terminava com Maria Maria, cantada pelo Milton Nascimento. Ah, é uma música comovente, né? Tanto que é até batida. Eu tenho um pouco de preguiça de ouvir sempre, mas de tempos em tempos eu me emociono, porque conheço tantas mulheres que riem, ao invés de chorar e não vivem, apenas agüentam.
O Lado B, é uma incrível seleção de musicas internacionais. Não tem nome das músicas só das bandas, nesta ordem e desta forma: U2, Smiths, Led Zeppelin, Beatles, U2, Smiths e Smiths. Gosto do U2, mas Smiths e Beatles se tornaram bandas preferidas em anos depois desta fita. Não causou o impacto das musicas do lado A, e nem ouvia com tanta freqüência, mas era uma seleção e tanto. A que eu mais gostava em 1994 era o Stairway to Heaven, que me fez convencer o professor de inglês do CNA para ensinar a música em classe.
Quando eu estava em licença maternidade eu fiquei muito em Mogi e pensei hipoteticamente como seria bom morar lá para criar meu filho. O pensamento saiu bem rápido da minha cabeça, porque nosso lugar é aqui em SP, mas se fosse seguido a diante, ia querer ser vizinha da Geórgia, e sempre que a gente se encontrasse, eu ia pedir para ela sugerir a música que a gente fosse ouvir.
Em tempo: Parabéns Gi! Feliz Aniversário atrasado!