Salada de inverno 2: beterraba, ervilha torta, cabotiá e raspas de tangerina
Hoje seria o aniversário de Pablo Neruda, não posso me furtar de fazer uma pequena homenagem aqui, já que a Cozinha é da Matilde por conta dele, que um dia escreveu 100 Sonetos de Amor para a sua Matilde, a Urrutia, cantora lírica chilena com quem viveu seus últimos dias.
Pablo Neruda, presente!
Salada de Inverno 2
O inverno é a melhor época do ano para comer na minha opinião. Nosso corpo naturalmente pede mais comida, o apetite fica afiadíssimo, operando no modo gula total. E tudo fica mais gostoso assim, com a vontade de comer elevada à milésima potência.
Pura alegria não fosse necessário equacionar tanto prazer gustativo com as modernas exigências de corpos perfeitos… ai que saudade da renascença… maneirar é preciso, eu sei, mas sem perder o sabor jamais!
Uma boa maneira de não sair perdendo nessa equação é investir em saladas de inverno. Têm menos calorias que as comidas tradicionais da estação mas garantem a vontade de comer (e com prazer!).
Essa aqui eu fiz para um jantar com amig@s querid@s em uma dessas noites frias que passou, e ficou tão gostosa que virou post!
O bacana desta salada é que cada um dos itens é temperado separado e diferente dos demais. A beterraba com balsâmico (que eu adoro), a cabotiá com pimenta calabresa, as ervilhas e a mozarela com as raspas de tangerina. Essa mescla de sabores fica muito especial e garante uma surpresa a cada garfada.
Outra coisa legal é que é uma salada refeição. Pode ser servida como prato único e substitui muito bem uma refeição, já que é portentosa na medida certa e garante a saciedade. Por outro lado, também fica perfeita como entrada em um jantar petit comitê, como eu fiz.
Ingredientes – 4 porções
Como já disse, fiz essa salada para um jantar com amig@s e quando cozinho assim costumo pensar o menu durante as compras, com o que acho de bacana no mercado. E via de regra estão bacanas e bonitos os produtos da estação, como esses que usei na salada, tudo lindo e muito mais gostoso.
E não só produzem melhor durante a estação certa (e com muito menos fertilizantes, aditivos e agrotóxicos no caso de produtos que não são orgânicos), como atendem melhor ao que nosso corpo pede naquela estação. Assim, os produtos de inverno são prefeitos para o clima e para a necessidade calórica de nosso corpo durante o inverno. A natureza é mesmo uma danada de sabida e ninguém nunca duvidou disso por aqui, né mesmo?
4 mozarelas de búfala médias abertas com a mão (ou várias pequenas)
4 gomos de abóbora cabotiá com casca
12 ervilhas tortas
4 beterrabas pequenas ou 2 médias
2 porções de verdes de sua preferência (eu usei uma mostarda especial que tenho plantada no quintal)
1/2 dente de alho brunoise
Raspas de uma tangerina
Pimenta calabresa em flocos
Azeite extra virgem, balsâmico e flor de sal a gosto
Modo de fazer
Descasque as beterrabas e parta em 4. Leve ao forno pré aquecido regadas com azeite e salpicadas com sal e pimenta do reino moída na hora. Asse até ficarem macias ao toque (aproximadamente 30 minutos). Retire do forno e regue com balsâmico. Reserve.
Leve os gomos de caboitá regadas com azeite e salpicadas com flocos de pimenta calabresa também ao forno pré-aquecido (separadas das beterrabas para não mancharem).
Aqueça um frigideira antiaderente e nela sue o alho em uma colher de azeite. Salteie as ervilhas tortas, salpique com metade das raspas de tangerina. Reserve.
Em uma travessa disponha as beterrabas, cabotiá, ervilha torta, mozarelas e a mostarda. Salpique as mozarelas com o restante das raspas de tangerina.
Regue toda a salada com azeite extra virgem, salpique flor de sal e pimenta moída na hora.
Você pode servir essa salada morninha ou fria, fica igualmente boa. Bom apetite!
Harmoniza com… por Marcelo Pedro (No Copo) e Marina Novaes (Nas Pick’ups)
Para acompanhar esta salada de inverno, que pode ser entrada ou refeição, vou sugerir um vinho rosé ou um tinto clarete.
Já escrevi anteriormente em outro post sobre os rosés, e gostei muito do rosé chileno Montes Cherub, da Viña Montes, que é feito 100% com uvas Syrah, tem complexidade e bom teor alcoólico (13.5%), para acompanhar refeições como saladas, carnes brancas e até comida asiática, bem condimentada.
Mas e os tintos claretes? Sempre nos livros de Somerset Maugham, um dos meus autores favoritos, ele descreve refeiçoes acompanhadas de um vinho clarete português ou francês. Pesquisei um pouco, e a denominação clarete tem origem medieval na região de Bordeaux na França. Eram vinhos em que o processo de vinificação em contato com a casca macerada de uvas tintas era limitado a 1 ou dois dias, e resultava em um vinho tinto mais claro, que era exportado para a Inglaterra em sua maior parte, onde tornou-se bastante popular e onde o termo francês clairet deu origem a palavra claret.
Hoje os clarets franceses são feitos a partir de uvas Merlot, Cabernet franc e Cabernet Sauvignon, castas tradicionais da região de Bordeaux. Mas também em Portugal foram desenvolvidos vinhos tintos mais claros, mas com técnica diferente dos rosés, que em geral são feitos a partir da “sangria” de tintos acrescidos a vinhos brancos. E como os ingleses também são dos maiores compradores de vinhos portugueses, sugeriria um vinho clarete portugues, como o Quinta do Monte d´Oiro,que tem ótima acidez e graduação alcoólica de 13%, e vai muito bem para acompanhar refeições. Saúde!
Jazz Carnival – Azymuth
O inverno, na minha opinião, também é a melhor época para ficar em casa. E uma banda que a gente ouve sem parar por aqui é o Azymuth: para cozinhar, para ler o jornal no final de semana, para arrumar a sala, para ficar no cobertor… Além de ser um bom par para essa salada de inverno, quero fazer aqui a homenagem ao José Roberto Bertrami, tecladista da banda que faleceu no domingo dia 08 de julho de 2012.
Já falei do Azymuth por aqui que faz da salada do samba, funk e rock, jazz e suingue, um bom prato principal. E o Bertrami, que tinha 66 anos, foi um cara que mostrou para o mundo uma cara da música brasileira que sai um pouco do convencional: com teclados elétricos e sintetizadores analógicos. As músicas da banda quase não tem vocal, mas o seu instrumental nos aproxima de uma idéia de letra. Muito desse estilo é devido piano Rhodes de Bertrami e o Vocoder, instrumento capaz de sintetizar a voz humana.
A música Jazz Carnival, lançada em 1979, foi um dos grandes hits do trio, especialmente na Inglaterra, na época da Disco. E os caras, que são daqueles muito (ou mais) cultuados fora do país, em 2011 lançaram o disco Aurora, com um pouco mais de 40 anos de carreira, sempre com a mesma formação e com um estilo só deles. RIP