Roteiros da Cozinheira 1 – Zona Cerealista + Garfo&Foco
Enfim chegou dezembro e com ele os festejos de fim de ano, muita comida, bebida, música e alegria! E também muitas horas de fogão, forno e batendo perna em compras e mais compras…
E quando vai chegando essa época mais que nunca recebo telefonemas e mensagens de amig@s e leitor@s pedindo dicas de onde comprar isso ou aquilo, onde encontro alguns ingredientes raros, onde o preço é melhor, enfim, querem dicas do roteiro de compras de alguém que vive das panelas. Daí que em lugar de falar de um por um resolvi logo criar uma nova categoria, Roteiros da Cozinheira, que de pouco em pouco vou alimentando com dicas dos meus roteiros de compras.
Também é uma boa oportunidade de retomar os Rolês Gastronômicos e Fotográficos do projeto Garfo & Foco, meu e da Gabi Butcher (cujas fotos ilustram este post), que muita gente bacana participou e muita gente ainda quer participar e que prometemos voltar a fazer no primeiro trimestre de 2013, sem falta (acompanhe nossas agendas para não perder o próximo).
E juntando a categoria nova + rolê garfo&foco + festejos de fim de ano não deu outra: o melhor lugar para começar é a Zona Cerealista de São Paulo. A Lara Januário do Sem Medida já ensinou como pedir delivery de lá, e aqui você vai junto em um passeio à pé. Bora lá?
Quem curte comer e cozinhar deveria saber que a ZC – Zona Cerealista é uma grande festa! Fica ali, pertinho do Mercado Municipal da Cantareira. Basta atravessar a Av. do Estado e você está na Rua Santa Rosa e já vai perceber a movimentação de caminhões descarregando (vários carregadores com a cabeça protegida por bolas de capotão), vendedores de alho pelas calçadas retirando a película externa das cabeças e arrumando lindos pacotes para vender nos semáforos da região, grupos apressados de quituteiras, salgadeiras e boleiras de bairro que chegam ali para comprar insumos, uma legião de vegetarianos e veganos em busca cereais e outros tesouros escondidos e muitos, muitos cozinheiros (olhe para os pés da turma, repare no número de crocs e tamancos de cozinha).
Verdadeira Disneylândia dos cozinheiros, está para as comidas assim como a Rua 25 de Março para as bijuterias e cacarecos. Em um passeio pelas adjacências é possível encontrar desde os ingredientes mais singelos como uma cebola, até sofisticados vinhos importados, figo iraniano, cominho indiano e por aí vai…
Estudo do Sindicato do Comércio Atacadista de Gêneros Alimentícios (Sagasp) mapeou atividades e prédios históricos e analisou a vocação da região. Foi comprovado que a região tem relevante representatividade econômica e faz parte da história do desenvolvimento do centro de São Paulo. A pesquisa também apurou dado importante que demonstra esse fator: as 146 empresas entrevistadas são responsáveis pela geração de 18.360 postos de trabalho, sendo 3.672 empregos diretos e 14.688 indiretos.
Até pouco tempo atrás, porém, a região tinha poucos atrativos para o consumidor comum. Isso porque todo o comércio local era voltado para produtos comprados no atacado por revendedores como supermercados e feiras. Esse tipo de comércio continua, mas com menos força. A maioria dos lojistas reformou ou repaginou seus pontos de venda com o objetivo de atrair clientes do varejo.
A melhor maneira de descobrir a Zona Cerealista e eleger seus melhores fornecedores é se deixar levar. Bata perna, desbrave as ruas, cheque cada portinha, há muito por ver e descobrir desta área tão bacana da nossa querida Sampa!
PS- Ficou com fome? Aproveite a oferta de frutas dos ambulantes da região que pegam seus produtos direto no Mini Ceasa, que ainda vai virar post aqui! ;)
Como chegar?
De metrô você pode chegar pela estação Dom Pedro (saída da Rua Mercúrio) ou pela São Bento (e aí já aproveita a 25 de março e o Mercadão pelo caminho!).
Para quem vai de carro, o mapa é esse aqui. Tem vários estacionamentos na região, eu sou freguesa do que fica na própria Santa Rosa, número 108 – Estacionamento Santa Rosa Park. Deixo o carro lá e saio com o carrinho para as compras.
O que há para ver
A variedade e diversidade de produtos que são encontrados na Zona Cerealista enchem os olhos até de quem não liga muito para comida. São vários empórios, atacadistas, galpões e pequenas portinhas cada uma com sua peculiaridade, sua história e seus produtos especiais.
Mas se engana quem acredita que a única coisa para se ver na ZC são produtos alimentícios. Estes são parte fundamental das cores e aromas das redondezas, mas há muito mais, começando pela arquitetura representada pelos prédios antigos, retratos de uma São Paulo de outrora.
Chama atenção também a vida que pulsa em cada fresta. A ocupação do espaço, calçadas, ruas, portas, janelas, sacadas e varais pelas pessoas que vivem, transitam e trabalham por ali. Gente de toda parte, um grande capital humano a um sorriso ou dedo de prosa de distância.
Uma circulada pela Rua Benjamim Oliveira é obrigatória para captar a cena local. Assunte para os galpões atacadistas e para os trabalhadores descarregando os caminhões. A rua Eurípedes também é muito bacana, em especial a loja do numero 115, parece retirada do túnel do tempo e é ali que sempre encontro amendoin torrado na casca…
Melhores Compras
Quando comecei a trabalhar como cozinheira tirei um dia inteiro para, munida de uma lista básica de compras, entrar de porta em porta para entender o que eu encontrava e por quanto, em cada uma delas. A partir dessa primeira incursão comecei a montar meu roteiro que foi se alterando com o tempo, a medida que me aprofundava na região.
Com certeza você vai descobrir várias outras portinhas e outros fornecedores além da lista que segue, mas estas indicações básicas são um bom começo:
Laticínios Camanducaia – É por aqui que começo minhas compras, é o mais barato da área, o que eu não encontro ali busco nos outros empórios. Ele fornece para grande parte dos restaurantes de Sampa. Vende frutas secas, castanhas, pertences para feijoada, manteiga por quilo, queijos, itens básicos de mercearia, azeite etc, etc, etc.
Por conta dos bons preços, é onde tem a maior concentração de quituteiras e salgadeiras do pedaço, daí que é uma farra o bate papo que rola nas filas enquanto a gente espera aquela barra grande de manteiga. (dica da dica: O banheiro é super limpo).
Cerealista Helena – Além das frutas secas e cereais mais comuns, vende uma grande variedade de produtos naturais diferenciados como pólen seco, frutas liofilizadas, farinhas de tudo (beterraba, avelã, amaranto entre outras).
É a Meca dos naturebas, onde sempre fico a par do que está rolando de novo no mundo da comida vegana e onde troco receitinhas saudáveis incríveis!
Casa Flora – É umas das primas chiques do pedaço. Vende produtos finos tal como marron-glacé (a tara desta que vos escreve…), flor de sal, vinhos, chocolates, azeites, figo iraniano, entre outros.
É mais cara que a maior parte dos vizinhos, mas só ali que alguns produtos são encontrados. E se compararmos com os supermercados comuns da cidade é beeeeeeem mais barato. No fundo da seção de vinhos há uma área reservada para garrafas com desconto. Elas têm pequenas avarias, como rótulo rasgado.
Casas de alho – Estão por toda parte, com bancas na calçada para vc escolher o alho que vai levar. É o melhor preço da cidade para alho e em geral, a melhor qualidade. Uma vez por ano aparecem umas cabeças mini muito lindas, que ficam uma graça para serem cozidas inteiras junto com arroz ou no meio do caldo da carne.
Rua Eurípedes, 55 – tem um produto que adoro: os cones para cereais coloridos como o que estou na mão na foto aí de cima (e que uso nos potes de mantimentos), baciazinhas de plástico coloridas lindas (daquelas que usam na feira), alem de coadores de pano e bucha vegetal.
Rua Eurípedes, 115 – Mais que a variedade de produtos, esse armazém promove uma viagem no tempo, fico fascinada. E é onde compro amendoin graúdo ainda na casca, além dos saquinhos rendados amarelos e vermelhos para embalar frutas que adoro. Entre e se perca!
A melhor dica:
Quer encontrar todos os ingredientes que procura e boas dicas? Quando estiver pelas redondezas, abra o seu maior sorriso, converse com as pessoas, pergunte pelo melhor uso de tal ingrediente e onde encontrar aquele tempero especial que vc está procurando.
As pessoas que circulam pela região são extremamente simpáticas, têm sorriso fácil e simplesmente AMAM um dedo de prosa. E se o/a interlocutor estiver munido/a de uma máquina fotográfica aí ninguém segura a quantidade de sorrisos e pedidos de “tira uma foto minha, moça!”.
Harmoniza com… por Marcelo Pedro (No copo) e Marina Novaes (Na pick’up):
Hoje a harmonização será diferente. Não tenos um prato para harmonizar com um vinho, uma cerveja, mas um roteiro de compras de bebidas que combinem com as comidas típicas das festas de final de ano.
E aí é que mora a dificuladade, pois as tais comidas típicas são um pouco inadequadas para nosso Natal e Ano Novo em pleno verão. Mas vamos lá.
Primeiramente, apesar de comprar vinhos em supermercados de vez em quando, em geral o modo como as garrafas ficam estocadas, na vertical, sob luz fluorescente, em temperatura ambiente, não é a maneira mais adequada. Às vezes, uma pechincha pode trazer surpresas desagradáveis, com deterioração do seu conteúdo. Por isso , recomedo que você compre vinhos em lojas especializadas.
Eu gosto muito das importadoras, como a Mistral e a Vinci. Da primeira recomendo os vinhos da Viña Carmen, bodega chilena que tem ótimas opções a preços acessíveis, além de ser importadora dos vinhos portugueses do Luis Pato. Da segunda, recomendo os vinhos da Kaiken, vinícola argentina de propriedade da Viña Montes, a famosa vinícola chilena produtora do famoso Montes Alpha, que combina a expertise técnica chilena com o terroir argentino de Mendoza.
Além dessas importadoras, sempre vale a pena procurar em lojas como as que tem aqui no bairro vizinho de Pinheiros, como a Empório Net Drinks e Empório Mercantil, ambas na Rua dos Pinheiros.
Muitas vezes encontro boas ofertas, até com preço mais em conta que das próprias importadoras, que têm preço em dólar, que podem ser uma armadilha em tempos de alta da moeda americana.
Algumas sugestões de vinhos para acompanhar pratos natalinos e de reveillon:
Panetone: vai bem com vinhos mais adocicados, como um Pasito do Piemonte, italiano, um vinho adocicado de sobremesa. Para que prefere um vinho mais leve e refrescante, podemos optar por um Moscato d’Asti, espumante leve, pouco alcoólico e adocicado. Para os que preferem chocotone, um vinho do Porto Ruby é uma boa pedida.
Peru: Um vinho espumante branco e um rosé, como o Montes Cherub chileno não ofuscam a leveza da ave natalina.
Pernil: Com carne de porco os vinhos portugueses da Bairrada, como os do Luis Pato, feitos com a casta portuguesa Baga dão um casamento perfeito.
Bacalhau: Apesar de lembramos do Baclahau na sexta-feira Santa, muitas ceias tem o prato típico português. Nada mais adequado do que um bom tinto português como os Alentejanos. E claro, um bom vinho verde branco, com a Casta Alvarinho, que é bastante refrescante para o nosso clima.
Cordeiro: o pernil de cordeiro é uma carne que apesar de vermelha, é bastante leve e delicada e vai bem com um Pinot Noir chileno, ou um Pinotage Sul africano
Frutas como ameixa, cereja, pêssego e nectarina casam perfeitamente com espumantes, como champanhes, cavas e prosecco.
Frutas secas, como nozes, avelãs e amêndoas, para quem preza pela tradição, apesar do nosso calorzão, vão bem com vinhos brancos de sobremesa, como os de colheita tardia.
Agora, se estiver um calorzão de rachar, que tal optar por cervejas, como a belga Leffe Blonde, as de trigo alemãs tipo Weiss e mesmo as pilsen tchecas?
O importante é comemorar com a família e amigos e evitar os exageros alcoólicos. Sempre é bom lembrar a dica que me foi dada no Chile: para cada copo de vinho, beba um copo de água, que te mantém hidratado e evita a ressaca. Tim-tim!
Como companhia neste passeio, eu levaria o Ipod. Andar pelas ruas do Brás, sentindo a cidade, observando o vai e vem das pessoas e riscando o check list de coisas a comprar.
Para começar o rolê, logo saindo do metrô, escute este R&B clássico, do Charles Wright, Express Yourself. As pessoas podem achar engraçado você dançando para atravessar a rua, mas não tem problema:
Ainda no quesito dançar, um rock and roll com Rita Lee, Dançar para não Dançar, porque é um bom tema “Faça como Isadora/Que ficou na história/Por dançar como bem quisesse”
Para aguçar a miscelânea de delícias que vai ser encontrada no caminho, o Bixiga 70, com Tema di Malaika faz uma boa composição com os elementos de músicas brasileira, latina e africana.
Depois coloque Água da Minha Sede, com a Roberta Sá, acompanhada do Trio Madeira Brasil, que gravaram um cd só com músicas do Roque Ferreira. Adoro a parte que fala que o “O meu amor é passarinheiro”.
Depois um tamborzinho e olhe lá, de Karina Buhr com Ciranda do Incentivo, engraçada, gostosa e funk!
Depois uma velha conhecida, bem calma, para dar uma segurada no vai e vem de pessoas, Tropicália, do Beck
Jorge Benjor nunca deve ficar fora de nenhuma lista, e Xica da Silva é uma boa para enquanto estiver batendo perna e escutar uma história, porque é literalmente a descrição da “escrava a amante e mulher do fidalgo”, musicada por Benjor a partir de uma mini biografia mandada por Caca Diegues para o filme homônimo.
Para descansar, um reggae das antigas do jamaicano Ken Boothe, com I Don’t Want To See You Cry.