Na Cabeceira 19 – O sal é um dom – Receitas de Mãe Canô
O sal é um dom – Receitas de Mãe Canô
Mabel Velloso – Ed. Nova Fronteira
É o tipo de livro que me emociona. Remete aos cadernos de receitas que toda família tem, escritos, em geral, por uma tia caprichosa com letra de professora. Me deliciava quando um assim caía em minhas mãos, ia logo escrafunchando em busca de boas receitas que copiava e transferia para o meu próprio caderninho.
O que mais me encanta são os modos de fazer: mais que orientações, são anotações mentais da cozinheira. Conversas dela consigo mesma para não errar no preparo. Fecho os olhos e consigo escutá-la “cantando” o modo de preparo, e com ele os conselhos e segredos que garantem um prato perfeito, como nesta receita de Caruru: “Jogar os quiabos cortados numa panela com água fervente. Deixar os quiabos cozinharem até os caroços ficarem cor-de-rosa. Colocar os temperos e deixar cozinhar bem até fazer ‘cara de velho’.”
Estão compiladas no livro um grande número de receitas tradicionais da Bahia e preciosidades como os pirulitos moldados em cones de papel (que eu fazia na infância) e as moquecas de caju e de ovo pouco conhecidas por aqui.
E traz ainda todo o ritual, o cenário, as manias, os gostos e os personagens envolvidos nas refeições da família em Santo Amaro da Purificação, e acaba levando a gente para o quintal dos Velloso, sob o jambeiro, para uma refeição interminável…