Comida de sogra: Torta de sardinha à moda portuguesa
Eneida, minha sogra, além do nome épico, é uma cozinheira de mão cheia. Adoro a comida dela (pense no melhor bife do mundo!) e é a ela que devo (entre outras qualidades) o marido bom garfo e ótimo cozinheiro!
Desde que nos casamos, não é incomum que o Marcelo me peça determinados preparos que ela faz e que ele adora, como a famosa carne moída com chuchu, o frango ensopado com batatas e ervilha ou esta deliciosa torta de sardinha bem portuga, com ovos, azeitonas, tomates, cebola… que por sua vez, Eneida aprendeu com a sogra dela, Dona Amélia, avó do Marcelo. Ou seja, essa receita aqui é uma legítima comida de sogra, repassada a duas gerações de noras! :)
A primeira vez que fiz morávamos em Brasília, ela foi nos visitar e anotou a receita prá mim em papel e eu repeti a danada várias vezes. Era nosso lanchinho preferido para os piqueniques que fazíamos nos fins de semana na Ermida Dom Bosco, pequena praia do Lago Paranoá, no Lago Sul.
Eu adoro. Tem uma massa deliciosa e o recheio, aiai! Aliás, gosto de qualquer coisa com sardinhas. Fico passada com o preconceito que as pessoas têm em relação a elas. É um alimento delicioso, barato, super rico (dá-lhe ômega 3!) e muito versátil: vai bem na salada, no molho da macarronada, no cuzcuz, recheio de tortas, petiscos… e mesmo assim muita gente torce o nariz para essas mocinhas elegantes vestidas de prata. Como sempre é tempo de quebrar preconceitos, comece por esta torta e eu garanto: você também vai se apaixonar por elas!
Ingredientes
Massa
- 250g de farinha de trigo
- 100 g de manteiga sem sal
- 1 ovo grande inteiro ou 2 pequenos
- 1 colher de chá de sal
- 1 colher de chá de fermento em pó
Recheio
- 1 xícara de molho de tomate (bem temperadinho!!!)
- 2 latas de sardinha, eu usei da marca Ramirez, portuguesa, que agora a gente encontra nos supermercados brasileiros. Escolhi as marinadas em molho de tomate picante, mas existem outras opções.
- 2 ovos cozidos partidos em quatro
- 1 tomate em rodelas
- 1 cebola roxa finamente laminada
- 2 colheres de salsinha fatiadinha
- 1 colher de dodo de moça laminada (opcional)
- azeite, sal e pimenta do reino à gosto.
Modo de fazer
Massa
Junte a manteiga gelada à farinha com o fermento e o sal. Corte a manteiga com uma faca até ficar com uma farofinha de farinha e manteiga.
Acrescente o ovo (eu fiz duas receitas por isso dois ovos!) e amasse bem até obter com uma massa homogênea.
Deixe a massa descansar por 20 minutos coberta com um pano de prato.
Montagem
Com a ponta dos dedos forre uma assadeira de fundo removível com a massa. Tente fazer com a espessura mais fina que conseguir. Suba com a massa pelas bordas.
Espalhe o molho de tomate (eu fiz com azeite, alho e salsinha, bem temperado e ardidinho).
Sobre o molho de tomate espalhe as sardinhas amassadas com um garfo.
Sobre ela as rodelas de tomate e os quartos de ovo.
Polvilhe tudo com a cebola, salsinha e pimenta em lâminas. Finalize com as azeitoninhas e um fio de azeite.
Abra tiras da massa e com elas enfeite a torta fazendo uma trama que pode ser mais aberta ou mais fechada (eu prefiro menos massa, então faço mais aberta). Se for do seu agrado, pincele a trama com uma gema (eu prefiro sem, não gosto do sabor do ovo queimado, mas a torta fica muito mais bonita).
Asse em forno pré aquecido por aproximadamente 30 minutos (depende do quão dourada você quer a massa).
Bom apetite!
Harmoniza com… por Marcelo Pedro (No copo) e Marina Novaes (Na Pick’up)…
Na verdade esta torta é tão boa, e tenho lembranças dela desde a idade pré-escolar, que nunca liguei muito para o que estava bebendo. Na maior parte das vezes era guaraná, no domingão a noite, depois dos Trapalhões lá na casa da minha avó.
Na semana passada, quando a Léti a fez para fotografar este post, estava um calorão danado, então minhas dicas serão as cervejas que tomamos.
Pra começar uma cerveja belga, a La chouffe, uma Blonde D´Ardedenne com 8.0o de álcool, fabricada pela cervejaria Duvel Moortgat. Ela é bastante clara, meio turva, quase uma bière blanche, mas com sabor bastante delicado, frutada, não muito amarga, e casou super bem com a torta apimentada. Depois tomamos uma Duvel, uma Belgian Golden Strong Ale, um tiquinho mais alcoólica 8.5o, um pouco mais amarga e bem límpida, mas também bastante aromática. Aliás, se vc reparar, as garrafas das duas são iguais e na minha opinião, são lindas! Afinal, são da mesma fabricante.
E para finalizar, tomamos uma Colorado Cauim, uma lager brasileira lá de Ribeirão Preto, que além de malte de cevada, tem mandioca em sua composição, para dar um toque de brasilidade. Confesso que não percebo muito o sabor da mandioca, mas é uma lager bem honesta, super refrescante.
Praqueles que me condenam por harmonizar uma torta portuga, da minha avó, com cerveja ao invés de vinho eu digo: no calorão do verão em Lisboa bebe-se muito mais cerveja, como a Sagres, ou chopp (que lá os patrícios chamam de um fino), do que vinho!
Ai que saudades da terrinha! Saúde!
[Ai eu já comi esta torta! Que delícia. E com estas fotos, vixe Maria, tive uma experiência sensorial incrível, como se estivesse sentindo o cheiro e saboreando-a]
Uma coisa você pode ter certeza que vai acontecer em uma viagem a Portugal: você vai comer bem. Eu fui para lá de viagem de lua de mel, e esta memória gastronômica ficou marcada. Na verdade, tudo era motivo para eu gostar da viagem, mas a cada portinha que a gente entrava para fazer uma refeição, saíamos com um sorriso de felicidade.
Então não tenho como escapar a harmonização deste prato com a música que marcou a nossa viagem: Apontamento, da Margarida Pinto.
Ela é portuguesa, canta numa banda bacana chamada Coldfinger, e tem dois discos solo também. Quando estávamos lá ela estava lançando o primeiro disco, e a jogada de marketing era bem forte, lembro de ver em várias lojas de discos propaganda do disco, na MTV portuguesa, revistas… Até que numas destas li uma entrevista dela falando que a música e título do álbum era uma poesia original de Álvaro de Campos. Ficamos interessados e fomos ouvir o CD. Ouvimos a primeira música, nos entreolhamos e compramos o disco, porque era a canção da nossa viagem. O clipe foi como a cereja do bolo, porque passa em imagens, muitas ruas que tanto passeávamos:
E nesta receita tão gostosa, vou agora me imaginar comendo um belo pedaço, bem apimentado, enquanto vejo Chico Buarque falando de Portugal e da Revolução dos Cravos, seguido de Tanto Mar, uma das minhas músicas preferidas dele: